Autor: Bruna Brum

Musa, coordenadora, passista e rainha. Essa é Cris Alves. Nascida e criada no samba, a beldade seguiu o caminho, o amor e a paixão pelo carnaval passada pela mãe. 

Cris Alves (Foto: Michele Iassanori)

"Eu conheci o samba através da minha mãe Irani Alves que foi passista da Portela, Viradouro, Cubango e outras agremiações. Quando nasci minha mãe desfilava na Viradouro e Cubango. Eu por ser uma criança muito levada, ninguém queria tomar conta para ela ir para o samba ou desfilar. Então ela me levava para as quadras de samba com ela. Cresci dentro da Viradouro e Cubango. Sempre vendo minha mãe sambar e querendo ser igual a ela"

Cris Alves começou a desfilar com apenas seis anos e entrou para ala de passistas com 18 anos. 
" Comecei a desfilar na ala das crianças da Viradouro e quando passei a ter idade fiz o teste de passistas e entrei para ala de passista da Viradouro. Na época, Viradouro e Cubango eram do mesmo grupo que desfilavam em Niterói e tivemos que escolher desfilar em uma ou outra por um tempo. Eu sempre fui apaixonada mesmo pelo Cubango e minha mãe escolheu ficar na Viradouro por conta das amigas"
Rainha de Bateria da Cubango em 2015 (Foto: Marcos Ferreira)

"A Viradouro quando foi para o Grupo Especial eu pude voltar a desfilar pela ala de passistas. Já que a Cubango estava no Grupo de Acesso e seriam grupos diferentes. Boa parte da minha vida foi desfilando nessas duas agremiações como passista. Assim foi meu começo no carnaval"

Além da Viradouro e Cubango, Cris passou pela Beija-Flor, Caprichosos de Pilares, Cacique do Viradouro, Cabuçu, Porto da Pedra, Sossego e até chegar no Salgueiro. 
"Nessa minha busca de me profissionalizar na arte da dança do Samba, cheguei no Salgueiro em 2000. Foi amor à primeira vista, a melhor escolha que já fiz em minha vida dentro do Carnaval. Fui convidada para fazer o teste de passista no Salgueiro, já que eu tinha saído da Viradouro. Passei no teste e entrei para o time de passista Show do Salgueiro, dali para cá só aconteceram coisas boas para mim dentro do Carnaval."
 
Cris Alves na Argentina (Foto: Arquivo Pessoal)
A passista se profissionalizou no samba e começou a realizar shows internacionais. 
"Salgueiro sempre foi um reduto de grandes empresários e empresárias que trabalhavam com shows internacionais. Viajei o mundo levando a nossa cultura Brasileira através da dança.Com esses trabalhos, pude comprar a tão sonhada casa própria para minha mãe, estudar minha área através de alguns cursos como inglês, Russo, Jazz, afro, percussão e fazer algumas melhorias na minha vida e na vida da minha família. Passava 6 meses fora e vinha para carnaval sempre desfilando na ala de passistas."

Em 2012, Cris Alves participou do tradicional Concurso Rei Momo e Rainha do Carnaval do Rio de Janeiro. A mulata foi vencedora e conquistou o título de rainha do carnaval.
"Participei do concurso representando a ala de passista do Salgueiro e ganhei. Em 2013, a presidente Regina Celi resolveu me dar um presente, por tantos títulos importantes e serviços prestados na arte da Dança do Samba representando nossa agremiação. Passei da ala de passista a compor o quadro de Musa do Salgueiro. Onde estou até hoje."
 
Rainha do Carnaval 2012 (Foto:Arquivo Pessoal)
Além do concurso de Rainha do Carnaval Carioca, Cris Alves participou do concurso Musa do Carnaval do Caldeirão do Huck.

" Eu tinha 30 anos e participar do concurso do Caldeirão do Huck foi o máximo e uma loucura. Achamos que seria o concurso igual, de todas concorrentes juntas de RJ e SP com duas fases e com a rápida definição. Só que chegou um novo regulamento. As candidatas para se tornarem a Musa do Caldeirão teriam que concorrer entre todas as candidatas do Rio. E a vencedora dessa fase seria eleita a Musa Do Rio de Janeiro. Foram duas fases com as dos Rio. Venci e fui a Musa do Rio. E na segunda etapa fui concorrer com a musa de São Paulo. Ganhei e fui eleita a Musa do Caldeirão do Huck por votação unânime. Embora eu tenha sido a candidata, foi um trabalho em conjunto com a bateria do Salgueiro e a coreografia de Carlinhos do Salgueiro. Foi lindo e emocionante!”

Cris Alves coordenadora da ala de passistas da Rocinha
(Foto:Arquivo Pessoal)

Cris é a nova coordenadora da ala de passistas da Rocinha.
"O convite foi feito pelo senhor Wilson Moises, diretor de carnaval da Rocinha e sua esposa Shayene Cesário, musa da Rocinha. Estavam procurando uma profissional para ajudar o ex coordenador na parte feminina. Para poder passar algumas instruções especiais e mais experiências no palco. Eu me apresentei e foi feita uma reunião. Lembrando que em breve terei um homem passista para trabalharmos em dupla de coordenadores."

Cris Alves (Foto:Arquivo Pessoal)
"Minhas expectativas são as melhores possíveis. Estou me dedicando com projeto de samba para as passistas da comunidade já integrantes da ala. Levando um pouco mais das minhas experiências no ramo. Um trabalho de lapidar. Está sendo maravilhoso e todos os passistas são super dedicados."

Mesmo com toda experiência de passista, coordenadora, musa e rainha de bateria, Cris Alves sempre sente aquele frio na barriga em pisar na Sapucaí.

"Jesus! Eu sinto tudo que você imagina. Frio na barriga, medo, tremor nas pernas que só passa quando atravesso aquela faixa de início da Sapucaí. A cada ano no Salgueiro, eu sou uma estreante de personagens. Sempre vivo um personagem que exige estudo o ano todo. Como coordenadora, também a mesma coisa, mas já fico mais tensa do começo ao final. Afinal são 50 passistas sobre nosso comando. Mas é maravilhoso." 

Além de coordenadora da ala de passistas da Rocinha, a musa não para em nenhum momento. Ela também estará desfilando como rainha de bateria e coordenadora dos passistas na Guerreiros de Jacarepaguá, no grupo "E", na Estrada Intendente Magalhães.

Rainha de Bateria Guerreiros de Jacarepaguá (Foto:Arquivo Pessoal)

"A Cris Alves com 18 anos tinha fome de ser, achava que tudo tinha que acontecer logo. Tinha muito mais resistência e velocidade que até tropeçava nas próprias pernas. Achava que podia falar o que vinha na cabeça, uma ansiedade de fazer e acontecer. Hoje sou bem mais madura, meu samba é o mesmo, porém com mais charme elegância. Sou mais cautelosa, penso muito antes de falar, respeitando tudo que conquistei com lutas e batalhas com mais humildade. Tenho mais cede de viver, de ensinar para quem está começando. Sou mais bonita hoje por dentro. E por fora mais enfeitada. Mais reconhecida isso é gostoso, porém continuo com a mesma essência simples de antes. Olho todo tempo para trás e me sinto muito grata a Deus por sobreviver até aqui da arte."
 
Cris Alves (Foto: Bruna Brum)
"O carnaval significa tudo! É meu trabalho no decorrer do ano com shows, eventos e aulas. Minha vida é um carnaval 365 dias do ano com mais responsabilidade ainda. Os quatros dias de Carnaval para mim só muda o glamour da Sapucaí ou as ruas em que desfilo. É o maior prazer da minha vida depois do convívio com minha família é claro." 


Cris Alves (Foto: Arquivo Pessoal)